LIFE FOR BIODIVERSITY
Impactos das alterações climáticas no timing dos períodos/fases sazonais
As alterações climáticas estão a transformar a sazonalidade e os ciclos de vida dos organismos em diversos ecossistemas em todo o mundo. Estas mudanças, frequentemente denominadas deslocamentos fenológicos, destacam os amplos impactos de um planeta em aquecimento. Alterações nos ciclos de vegetação, incluindo a emergência de estações quentes, variações nos períodos gerais de crescimento e perturbações em eventos biologicamente significativos, são agora influenciadas por temperaturas médias elevadas, precipitação imprevisível e aumento da variabilidade ano a ano.

Tais mudanças ambientais perturbam a complexa sincronia e imitação dentro dos habitats, afetando significativamente os insetos, particularmente as pragas. Sendo espécies poiquilotérmicas e ectotérmicas, são altamente sensíveis às flutuações de temperatura, tornando-se indicadores-chave em estudos sobre os impactos das alterações climáticas. Entre elas, o pulgão-verde-do-pessegueiro (Myzus persicae), uma praga agrícola generalista sem técnicas conhecidas de repelência, serve como um exemplo crítico. Este estudo de caso explora como anomalias climáticas — invernos mais quentes, primaveras antecipadas e aumento da pluviosidade — influenciam a invasão, sobrevivência e multiplicação desta espécie.
Pulgão-verde-do-pessegueiro
O pulgão-verde-do-pessegueiro (Myzus persicae) é uma praga altamente polífaga, alimentando-se de mais de 400 espécies de plantas, incluindo pêssegos, tomates e batatas. A sua ampla gama de hospedeiros permite-lhe prosperar em diversos habitats. Temperaturas moderadas a quentes (20–25 °C) favorecem o crescimento e a reprodução. Uma humidade adequada apoia o aumento populacional, enquanto a baixa humidade leva à mortalidade. Primaveras mais quentes desencadeiam uma emergência antecipada, aumentando o número de gerações por ano. Em regiões mais frias, passa o inverno sob a forma de ovos, sendo que invernos suaves promovem uma atividade mais precoce.
O pulgão-verde-do-pessegueiro, conhecido principalmente como uma praga, envolve-se em interações que se assemelham a relações simbióticas, em particular de mutualismo e de comensalismo. Uma relação mutualista notável existe entre o pulgão-verde-do-pessegueiro e as formigas. Os pulgões excretam melada, uma substância rica em hidratos de carbono, como subproduto da sua alimentação da seiva das plantas. As formigas consomem a melada como fonte de alimento e, em troca, protegem os pulgões de predadores e podem até transportá-los para locais de alimentação mais favoráveis, aumentando assim a sua sobrevivência.
O pulgão-verde-do-pessegueiro vive sobretudo como parasita nas suas plantas hospedeiras, retirando-lhes nutrientes e prejudicando-as ao atrasar o seu crescimento e torná-las mais suscetíveis a doenças. No entanto, também pode viver indiretamente em associação positiva com outras plantas. Por exemplo, os fungos que crescem sobre a melada beneficiam desta substância rica em nutrientes sem prejudicar os pulgões.
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Apesar do seu papel ecológico em algumas associações interespecíficas, o pulgão-verde-do-pessegueiro é gerido como uma praga devido ao seu grande impacto económico e agrícola.
Ampla Distribuição e Adaptabilidade
O pulgão-verde-do-pessegueiro está presente em todo o mundo. Ele prospera em diferentes climas devido à sua adaptabilidade. Pode alimentar-se de mais de 400 espécies de plantas, o que lhe permite viver em diversos sistemas agrícolas.
Estado de Praga

É bem conhecido pelos danos diretos que causa às plantas ao se alimentar delas e pela transmissão de vírus. Por isso, o foco está na gestão e controlo populacional, e não na conservação.
Alta Taxa Reprodutiva: Reprodução rápida e a capacidade de
Alta Taxa Reprodutiva

A reprodução rápida e a capacidade de desenvolver resistência a pesticidas são características deste tipo de espécie, que provavelmente não enfrenta nenhuma ameaça que exija medidas de conservação.
As alterações climáticas estão a alterar profundamente o ritmo natural dos ciclos sazonais, levando a uma cascata de perturbações ecológicas. Devido às alterações climáticas decorrentes do aquecimento global, estamos a experienciar uma primavera mais precoce e períodos de crescimento mais longos, remodelando assim os ecossistemas. Mudanças como estas também são responsáveis por quebrar o delicado equilíbrio entre espécies, afetando padrões de polinização, movimentos de espécies e interações, incluindo as relações predador-presa.

O desenvolvimento dos insetos acelera-se consideravelmente, criando um desfasamento entre a maioria dos predadores, como aves migratórias, morcegos e anfíbios. Este é o intrigante enigma nos ecossistemas: por mais pequenas que sejam as alterações temporais, elas resultam em grandes repercussões, como escassez de alimento, menor sucesso reprodutivo e declínios populacionais dessas espécies.

Isto ameaça não apenas a diversidade de formas de vida nesses sistemas, mas também compromete a capacidade desses ecossistemas de manter o equilíbrio ambiental do planeta. Estas realidades devem ser abordadas com urgência, e novos caminhos e medidas precisam ser explorados para gerir a sazonalidade do nosso planeta.
Abelhão-europeu
O Abelhão-europeu (Merops apiaster) possui uma vasta área de distribuição, abrangendo até 11.000.000 km² na Europa, África e partes da Ásia. Estas aves migratórias reproduzem-se na Europa Central, no Reino Unido, na Dinamarca e nos Estados Bálticos, migrando para o sul, em direção à África, no outono. Habitam paisagens abertas com árvores dispersas, zonas ensolaradas e abundância de insetos voadores, preferindo habitats próximos de margens de rios ou pedreiras para nidificação, embora também possam escavar tocas no solo.
O Abelhão-europeu enfrenta predação por aves de rapina, como falcões e gaviões, o que influencia o seu comportamento de alimentação e nidificação. A pressão de predação por raptores afeta significativamente a dinâmica das colónias e os padrões de atividade diária. Os abelhões também competem com outras aves insetívoras, como o Abelhão-de-cauda-azul, o Abelhão-garganta-branca e o Andorinhão-roxo, especialmente durante a época de reprodução, quando a procura de alimento é elevada.
Em áreas com escassez de alimento, envolvem-se em interações agressivas para garantir territórios de alimentação. Os abelhões proporcionam benefícios mutualísticos ao predar insetos nocivos, como vespas, marimbondos, escaravelhos e formigas voadoras, ajudando a manter a saúde das plantas e beneficiando tanto os ecossistemas naturais como os agrícolas. Algumas espécies, como o Abibe-europeu, o Corujinha-das-torres, a Cinta-rabuda e o Pardal-das-rochas, reutilizam as tocas escavadas pelos abelhões.
ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Na Europa, o Abelhão-europeu está listado no Anexo II (Espécies de Fauna Estritamente Protegidas) da Convenção sobre a Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais Europeus e está incluído no Anexo da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens. Estas designações destacam a importância de proteger esta espécie e os seus habitats.

A nível global, a população é estimada entre 14 e 44 milhões de indivíduos adultos, com a tendência geral considerada estável, embora existam variações regionais. A espécie beneficia de uma área de distribuição relativamente ampla e segura, com populações de reprodução significativas no Sul da Europa. O Sul e o Centro da Europa acolhem populações reprodutoras robustas, enquanto certas rotas migratórias, particularmente no Leste da Europa e em partes da Ásia, apresentam declínios devido à perda de habitat causada pelo aumento das temperaturas, secas prolongadas e pressões climáticas. Apesar das ameaças localizadas, a ampla distribuição da espécie e a sua adaptabilidade a habitats em mudança contribuem para a sua estabilidade relativa a nível global.

Estratégias eficazes de conservação devem equilibrar a gestão do habitat, a proteção de corredores migratórios e a mitigação de ameaças específicas de cada região, de modo a garantir a estabilidade contínua da população.